domingo, 27 de abril de 2014

BATALHA DE CASTELO RODRIGO (1664)

Já haviam passado mais de vinte anos sobre o ímpeto de 1640 e a luta durava ainda, não podendo a Espanha resignar-se a perder a rica província ocidental, a sentir encravada na península a garra inimiga da nação libertada e indomável.
Batidos ás vezes D. João d'Austria, de 1662 a 1663, pusera Lisboa em sustos, fora penetrando até tomar Évora, e ameaçava continuar a invasão, não desanimávamos; a lembrança de 1659 com a gloriosa vitoria das linhas de Elvas, que levantara num pedestal o marques de Marialva, era um panal de esperança nas horas de maior angustia e em 1663 o orgulhoso príncipe sofreu o revés do Ameixial em que a decisão de Vila Flor é auxiliada pela perícia e pelo valor de Schomberg.
Liberta-se Évora e D. João d'Austria deixa no campo o seu estandarte abatido, dispersos e perdidos a maior parte dos seus cavalos, a sua bagagem, toda a sua artilharia.
Na fronteira beirã o duque de Ossuna encontra na frente Pedro Jacques de Magalhães. De Cidade Rodrigo o fidalgo espanhol procura impedir o aprovisionamento de Almeida, corta-lhe a ponte de Ribacôa, destroem as colheitas a ferro e fogo e devasta as povoações abertas.
Pedro Jacques sai de Almeida a refazer as pontes, colocar atalaias e armar emboscadas em que mais de uma vez, castiga o inimigo. Queima lhe a vila de Sobradilho, da qual não toma o castelo por falta de petardo, que uma cheia do Águeda lhe demora.
Ossuna resolve vingar-se indo sobre a importante e mal defendida praça de Castelo Rodrigo com 700 cavalos, 4000 infantes e 9 peças de artilharia, colocando o governador António Ferreira Ferrão, que apenas tem para defende-la 150 homens, na situação mais critica. Assaltado vivamente por todos os lados António Ferrão defendia-se como um bravo que era, mas, conhecendo a impossibilidade de resistir, enviava repetidos avisos para Almeida a Pedro Jacques. Este juntou todos os auxiliares e ordenanças dos lugares próximos que lhe foi possível, obtendo custosa mente 2500 infantes, 500 cavalos e 2 peças de artilharia, partindo sem tempo de se fornecer de mantimentos, em socorro da aflita praça.
O duque, nunca esperando tal temeridade, não deu pela sua silenciosa chegada à Serra da Marofa, onde Pedro Jacques ficava dominando o campo castelhano e de onde presenciou o violento assalto por todos os pontos à praça na madrugada de 6 Junho, e a bravura com que o heróico governador se defendia repelindo o inimigo. Este espectáculo exaltou o animo das suas tropas o que o resolveu a cair logo sobre os castelhanos, cansados do assalto e desprevenidos.
Animou os seus, já enfurecidos pelas devastações e excessos do duque, e fez romper a cavalaria numa violenta e estrepitosa carga, atrapalhando, pelo imprevisto, as tropas espanholas, cujo general deu ordem de retirada, incendiando o acampamento para que o fogo os protegesse contra o inesperado inimigo, dando-lhe tempo de refazer-se; mas o incêndio mais lhe desordenou os soldados, e a cavalaria de Pedro Jacques, não afrouxando o ímpeto, empurrou-os sobre a ribeira de Aguiar, onde ainda quiseram fazer-lhe frente com uma, por mal dada, inútil descarga.
Aqui o desbarato dos nossos inimigos foi completo, e o duque de Ossuna teve que disfarçar-se para atravessar o Águeda, seguido de poucos cavaleiros, deixando mortos ou prisioneiros todos os seus infantes, e em despojos toda a sua artilharia, munições e bagagens.
Libertada Castelo Rodrigo, Pedro Jacques voltou para Almeida, glorioso por uma vitoria tão habilmente ganha que lhe não custou perdas, destruída a reputação militar do duque de Ossuna. Enviou por seu filho, criança de 14 anos que já capitaneava uma companhia de infantes no Ameixoal, a feliz noticia para a corte, onde de aí a uma ano teria de celebrar-se a gloriosa e decisiva vitoria de Montes Claros.